Fui convidada para participar dessa matéria publicada na revista Crescer online em 27/09/ 2023 sobre Engasgo.
Espero que gostem!
Nos últimos anos, tem circulado nas redes sociais diversos vídeos de pais recorrendo a um dispositivo de desengasgo, principalmente nos Estados Unidos. O aparelho também está à venda no Brasil, mas será que funciona mesmo? Veja o que dizem especialistas.
Uma situação de engasgo ou asfixia pode deixar qualquer pessoa em pânico — e é fácil entender o motivo. Com as vias aéreas bloqueadas, em poucos minutos, a falta de socorro pode ser fatal. Sabendo disso, uma mãe da Pensilvânia, nos Estados Unidos, chorando freneticamente levou seu bebê engasgado para o quintal e o colocou no chão. “Quando o agarrei e corri para fora, pensei que ele fosse morrer”, disse.
Ela estava preparando o jantar quando viu seu filho Mason sentado imóvel, com o rosto vermelho. “Não enxerguei nada na boca dele. Coloquei-o sobre os joelhos e bati em suas costas e não saiu nada”, lembra. A mãe, então, correu até o armário para pegar o desengasgador, mas também não funcionou. “E eu entrei em pânico, pensei: ‘Acho que não funcionou, o que eu faço? Estou ficando sem tempo, a ajuda não está a caminho. Preciso de ajuda ou ele vai morrer’”, conta. Foi então que ela correu para fora para pedir ajuda e tentou novamente. Desta vez funcionou. Nas imagens angustiantes da câmera de monitoramento, Brittany Massie Weir usa o aparelho e finalmente consegue tirar uma tampa de garrafa de brinquedo da boca de seu filho. “Comprei literalmente um mês e um dia antes de ele engasgar”, disse Weir.
Esse é apenas um dos muitos vídeos (assista no fim da página) que circulam nas redes sociais de pais recorrendo ao dispositivo anti-asfixia — que lembra um desentupidor de pia — para socorrer bebês e crianças, principalmente nos Estados Unidos, onde seu uso tem sido popularizado. No Brasil, é possível encontrar algumas marcas disponíveis na internet, mas será que é indicado? Realmente funciona?
Nos Estados Unidos, o FDA (Federal Drug Administration) não aprovou nenhum dispositivo anti-asfixia, mas também não exige aprovação para o uso. Apesar de defender a eficácia do aparelho, Daniel orienta, primeiro, aplicar a manobra manual de desengasgo em caso de urgência. “A primeira coisa a fazer quando alguém está engasgado é tentar a manobra de Heimlich, que é uma técnica manual. Se isso não funcionar ou não for seguro, aí é possível considerar o uso do aparelho desengasgador”, concluiu.
Falta de estudos em crianças
A pediatra Bianca Seixas Soares Sgambatti, do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), concorda que a manobra de Heimlich seja priorizada em uma emergência. Isso porque, segundo ela, não há estudos e nem comprovação científica do uso desses dispositivos em crianças. “Os estudo que temos são poucos, quase a maioria em manequins ou cadáveres adultos, e sempre testados por pessoas treinadas — estudantes de medicina e profissionais de saúde que sabem manejar uma máscara e vedá-la corretamente —, e não por pessoas leigas”, esclareceu.
“Outro fator importante que devemos nos atentar é o desvio do foco de procedimentos estabelecidos e reconhecidos como tratamento para aspiração de corpo estranho, como a manobra de Heimlich”, alertou a médica. “Isso poderia fazer com que perdêssemos um tempo precioso para a retirada do objeto/alimento da via aérea, piorando o quadro e podendo ser até fatal”, completou.
Como proceder em caso de engasgo
“A aspiração de corpo estranho (ACE) é um evento onde um objeto sólido, líquido ou semissólido é inalado na via aérea de uma pessoa em vez de ser corretamente ingerido. Dependendo do tamanho do objeto, idade da pessoa e tempo de tratamento, a obstrução pode ser total ou parcial acarretando grandes prejuízos ou até ser fatal”, alertou a pediatra.
Em crianças, segundo ela, os riscos de morte são maiores. “Pode bloquear a via aérea prejudicando a ventilação e oxigenação. Essas mortes são dramáticas para as famílias. Geralmente envolve corpos estranhos orgânicos (principalmente alimentos) aspirados por crianças menores de 3 anos — a maioria ocorre em casa ou na escola”.
“Para pacientes com engasgo e dificuldade de tosse/fala, o procedimento correto a ser realizado é a manobra de Heimlich ou 5 golpes nas costas, a depender da idade da criança. Menores de 3 anos são as que têm o maior risco de apresentar uma aspiração de corpo estranho. Os alimentos são os maiores ‘vilões'”, disse.
Os alimentos ou objetos mais perigosos são aqueles que possuem as seguintes características: redondo, cilíndrico, compressível, difícil de ser separado e escorregadio. “São mais fáceis de se ajustarem na hipofaringe da criança e causarem obstrução total de via aérea, podendo levar a óbito”, afirmou a pediatra. Já os alimentos que representam maior risco são uvas inteiras, tomates cereja inteiros, cenoura crua, pedaços de carnes, balas arredondadas e salsichas.
Prevenção é o melhor caminho
Oferecer alimentos adequados à idade e ao desenvolvimento neuromotor da criança, ficar atento aos brinquedos e partes deles — se são adequados à idade e ao desenvolvimento da criança — são excelentes medidas, disse a médica. “E os cuidadores devem estar a par das manobras básicas de suporte à vida da criança, como o que fazer e o que não fazer num episódio de engasgo. A prevenção é o melhor caminho”.
Fonte: Revista Crescer
Publicação original: https://revistacrescer.globo.com/criancas/saude/noticia/2023/09/videos-de-pais-usando-aparelho-para-desengasgar-criancas-viraliza-e-seguro.ghtml